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Transportar é preciso
Quando se trata de meios de transporte, tem se um único objetivo. Transportar pessoas, carga ou ambos. Poderia-se analisar velocidades, potências, custos, durabilidade entre outros, mas vamos utlizar o valor da massa para comparar alguns mais populares.
Costumo chamar de* coeficiente de inteligencia em transporte a razão entre a massa da carga transportada/carga transportada+meio de transporte
Por exemplo: Um vagão de trem, pesa 20t, e pode carregar 60t. Logo, para este sistema o coeficiente seria 60/(60+20)=0,75 . Uma moto de 120 kg levando 1 piloto ( 80kg em média, incluindo roupas) teria um coeficiente de 80/(80+120)=0,40.
Resumidamente, quanto maior este coeficiente, mais “inteligente ” seria o meio de transporte e quanto menor significaria que mais “peso morto” esta sendo transportado em vão.
Obviamente isto é muito relativo. Pessoas podem pesar 50kg ou 150kg. Um caminhão pode descer a serra cheio de soja e voltar vazio. Mas este simplório item nos da uma boa ideia sobre aproveitamento.
O meio de transporte mais polêmico nos dias de hoje, o carro particular, teria um coeficiente , para um carro compacto (800kg) com carga máxima ( 5 pessoas de 80kg e 300 kg de bagagem) de 700/(700+800)= 0,47. Valor baixo, mas razoável. Porém essa condição de uso, caso exista, é rara. Mais de 90% das situações os carros são maiores, estão vazios e apenas com o motorista e ainda devemos incluir o combustível, que não esta sendo de fato transportado, apenas consumido ( e jogado o que sobra , após queimado nos pulmões alheios). Logo podemos aproximar a massa do veículo para 1000kg e a carga para 80kg, então, 80/(1000+80)=0,074 . Este sim é um valor baixo ( que significa que para cada litro de combustível, 930ml são para transportar o carro e 70 ml são para transportar o motorista de fato).
Vamos falar também de um veículo fantastico, que além de contribuir para a saúde de quem os usa, contribui para a boa circulação de pessoas numa cidade.
Sim a famigerada heroina das cidades, a bicicleta.
Dificilmente uma bicicleta chega a pesar 20kg. Se o motorista usado no exemplo anterior tivesse uma luz na sua consciencia e utilizasse uma bicicleta, este sistema teria como coeficiente: 80/(80+20)=0,8 . Um valor mais de 10 vezes mais otimizado que um carro.
Criticos falariam que sem ter motor é facil obter resultados bons. Porém bicicletas elétricas, ja vangloriadas em vários países, que utilizam o mesmo conceito de transporte que as convencionais, pesam sempre menos de 40 kg, sem ter que pedalar. Logo seu coeficiente seria 80/(80+40) = 0,67, um valor ainda muito bom.
Razões para se popularizar bicicletas como meio de transporte não faltam, o maior problema como sabemos é uma barreira cultural.
Costumo chamar de*: Não existe em bibliografias ainda.
Tata Nãonão
Recentemente entrou em produção um veículo (automóvel) que será vendido por cerca de 2500 dólares ( valor inferior ao preço de muitas bicicletas de fibra de carbono, diga-se de passagem).
De cada 10 pessoas que eu escuto falando sobre este fato(ou lei em revistas e páginas na internet), pelo menos 9 delas comentam a mesma coisa:
-Agora que todo mundo vai poder comprar um carro o trânsito estará perdido.
Bom, perdido o trânsito já está faz um bom tempo, em Curitiba e em muitas cidades semelhantes. Mas o que nos salta aos olhos é um fato muito intrínseco da nossa cultura, em especial brasileira.
Fato este é a divisão de TODA população em apenas 2 categorias. As pessoas que não tem dinheiro para ter um carro e as pessoas que conseguem se deslocar exclusivamente de carro.
Ou seja, a partir do momento em que se pode ter um carro, torna-se quase proíbido andar de bicicleta, ônibus, etc. Lembro me da cara de espanto das pessoas quando descobriam que eu ia para a faculdade de ônibus alguns dias da semana, deixando o carro em casa e para o estágio de bicicleta na mesma situação. E não tinha razão financeira para isso, apenas achava isto melhor para a cidade.
Espero na verdade que este veículo venha trazer uma revolução no aspecto de que não seja o poder aquisitivo o fator decisivo na utilização dos meios de transporte, mas sim a real necessidade. Transportar compras, deixar crianças pequenas no colégio, levar pessoas de idade em médicos entre outras situações similares sou inclusive a favor da utilização de carros.
Entretanto chega a ser vergonhoso pessoas que moram em distâncias próximas a seu trabalho/local de estudo ou providas de boas alternativas de transporte público eno ápice da sua saúde fingirem que não podem deixar o carro em casa e adotar uma bicicleta como meio de transporte. E ainda reclamar de como o trânsito esta ruim.
Portanto pense em como melhorar sua cidade e sua saúde ao menos experimentando sair de casa de bicicleta. Em muitos países (culturalmente superiores ao Brasil) isto já é uma realidade, onde muito podem ter carros e poucos o usam, dando lugar a sinergia bicicleta/metro por exemplo, fazendo com que toda uma cidade saia ganhando.
Ser ciclista é ser multifuncional
O que diferencia o ciclismo ( em estrada, fora dela, cicloturismo entre outras divisões), que é uma atividade de longa duração, longas distâncias e com um equipamento bem especifico ( a bicicleta ) dos demais esportes?
O que diferencia é também o que afasta iniciantes de se envolverem com a atividade. É a grande necessidade de conhecimentos em outras áreas que torna o ciclismo algo com tão poucos adeptos.
Entre estes conhecimentos podemos citar a meteorologia, uma vez que estar a 50km de casa sem levar nenhuma roupa extra caso esquente ou esfrie exige uma ótima estimativa sobre o tempo durante varias horas. Em cidades instáveis como Curitiba, isto é quase uma arte, que se aprende a muito custo.
A própria orientação espacial é algo vital neste esporte. Principalmente no cicloturismo e no ciclismo fora de estrada, é imprescindível saber onde se está, para onde se vai, qual o relevo esperado, por quais rodovias passará. Utilização de mapas e GPS é um passo mais avançado mas igualmente esperado.
Mas como assunto desda página é a bicicleta, vamos nos focar neste objeto para caracterizar as barreiras desta atividade, uma vez que os itens acima podem ser encontrados no montanhismo, escalada entre outros.
A bicicleta infelizmente é um meio de transporte que carece de manutenção constante. Manutenção preventiva e corretiva. Portanto, pode-se dizer que para pedalar é preciso ser também mecânico de bicicleta.
Isto ocorre porque câmbios desregulam com facilidade, pneus furam frequentemente, selim e mesa precisam ser posicionados milimetricamente para ficarem confortáveis. Embora estes itens sejam básicos, estão longe de serem fáceis e intuitivos de serem feitos.
Além destes, temos que ter um conhecimento mínimo sobre desgaste e durabilidade de peças, principalmente se for pedalar por vários dias onde é difícil conseguir peças de reposição.
Desta forma, caso esteja familiarizando com este esporte, poderá perceber como já esta adquirindo um grande conhecimento sobre tipos de chaves ( allen,chave de boca, etc), sobre parafusos ( M4, M5, sextavado interno e externo) , sobre roscas ( direita e esquerda ( os pedais tem roscas diferentes em cada lado) inglesa e métrica. Provavelmente esta diferença será aprendida após espanar um parafuso que “quase” entrou) e conseqüentemente uma boa capacidade de estimar valores como torque ( de aperto em parafusos) e pressão ( em Bar ou Psi) nos pneus e as conseqüências da variação destas grandezas.
A necessidade destes conhecimentos técnicos mostram-se um grande empecilho para atrair novos praticantes. A manutenção preventiva ( substituição de peças gastas antes de sua falha) pode ser feita em bicicletarias ( $$ ) sem precisar entender sobre bicicletas, porém, na medida que este veículo se torna um elemento do seu dia-a-dia, não há como escapar de aprender sobre esta fantástica máquina de propulsão humana.
Em shopping até bicicletário é vitrine
Domingo chuvoso, precisando sacar dinheiro. Olho na garagem, o carro e a bicicleta. Aperto o manete de freio e facilmente a bicicleta levou a disputa. Jaqueta impermeável, cartão na pochete, cadeado e chave. É tudo que eu preciso, afinal documento e carteira de motorista não me seriam muito úteis.
Chego no local mais próximo para tal operação, o Shopping Jardim das Américas , nome pomposo que também é dado ao bairro e onde este se situa, em frente ao Centro Politécnico da UFPR. De datas anteriores eu já havia reparado a presença de um bicicletário dentro do estacionamento.
Perfeito. Entro no estacionamento pela entrada dos carros e me deparo com o bicicletário. Algumas bicicletas mais simples, outras não, mas ao todos deviam ser menos de 10. Número triste para um centro comercial de bairro, principalmente quando comparado ao número absurdo de carros. Melhor para mim. Escolho a dedo o melhor local, fixo a bicicleta, coloco cadeado e corrente. Entro no shopping, caixa eletrônico , saco o dinheiro e vou até a bicicleta , tiro corrente, subo nela e vou em direção a saída pra retornar pra casa. Momentos procedentes: (1) Rapaz de terno e radio ,(2) Eu
– (1) Ei , por gentileza, pode sair do estacionamento.
– (2) Sim eu estou saindo, tirei a bicicleta do bicicletário e estou em direção àquela saída.
– (1) Mas não pode circular de bicicleta aqui dentro.
– (2) Sim eu estou saindo, tirei a bicicleta do bicicletário e estou em direção àquela saída.
– (1) É um procedimento de segurança, não pode circular e bicicleta aqui dentro.
– (2) E como eu faço para sair daqui então?
(30 segundos de hesitação tipico de pré-resposta sem sentido)
– (1) Pega a bicicleta e vai empurrando até aquela saída do outro lado do shopping, como se você estive a pé.
– (2) Que falta de respeito com os ciclistas!
Tudo bem, sai de lá, empurrando a bicicleta e pensando, é uma idéia interessante. É tão boa que acho que todo mundo devia sair de lá empurrando seu veículo. Seja ele um patins, uma bicicleta, uma moto, um carro ou uma dessas diversas picapes que peruas gostam de dirigir no shopping. Não apenas as bicicletas.
(5 minutos depois, ao telefone da minha casa:)
– Administração do shopping Jardim das Américas , boa tarde?
– Boa tarde. Eu moro perto do shopping e gostaria de saber se teria como eu ir de bicicleta até o shopping, tem onde deixá-la?
– Claro, tem bicicletário, só precisa trazer corrente.
– E daí eu entro pela entrada e na hora de sair eu saio pela saída como se estivesse de carro?
– Ahn?
– E daí eu entro pela entrada e na hora de sair eu saio pela saída como se estivesse de carro?
– Sim num tom de “é obvio!”)
– Então você pode me fazer um favor?
– Sim.
– Avisa os seguranças, pois eu acabei de sair dai depois de ter levado advertência de um deles por tentar sair com a bicicleta.
– Qual que era?
– Um moreno gordinho.
– Ah tá. (30 segundos de hesitação tipico de pré-resposta sem sentido) É que você só pode sair por onde você entrou. No caso você deveria ter utilizado o acesso do G2.
– Mas ali é só entrada de carros , mal passa um carro, você acha mais seguro sair pela contramão dos veículos numa rampa estreita?
– Ah, você esta de bicicleta consegue dar um jeito.
– Muito obrigado, tenha uma boa tarde.
Achei melhor terminar a conversa por ali mesmo. A pergunta é: Por que tanta irritação com algo tão inofensivo quanto uma bicicleta? Não podem simplesmente tratar como se fosse uma moto que não faz barulho nem solta fumaça? Talvés o errado seja eu mesmo, e não os funcionarios incompetentes e uma administração infeliz. Talvés o errado seja eu mesmo, pois naquele jardim (das américas) só da pra entrar se fizer barulho e fumaça.
Carro na rua, voto na urna
Sinceramente, não sei por que insistem em promover “dia internacional sem carro” e outros eventos assim. A maioria dos motoristas de carro, ao se dar conta de um evento assim, ou finge que não viu, ou pensa
“que bom, vai ter menos carros, vai ficar mais rápido para eu dirigir o MEU carro sozinho”.
Verdade seja dita, em horários mais movimentados, quem faz trajeto bairro-centro e o oposto, sozinho, de carro já está no ápice da preguiça de mobilidade, e não iria substituir sua sedentariedade para poder ajudar a locomoção de uma população como um todo. Óbvio que muitos têm a real necessidade, seja por segurança (a noite, Curitiba e demais capitais estão perigosas) ou por não haver linhas de ônibus inteligentes (muitos trajetos bairro-bairro passam pelo centro, despendendo um tempo enorme) ou por transportar objetos pesados e volumosos (não! bolsas femininas cheias de tralhas não entram nessa categoria).
Vamos aos fatos que todos sabem mas muitos têm medo de admitir.
Trânsito urbano, tende a piorar: Tal problema pode ser amenizado por investimentos altíssimos, mas não resolvidos. Mas e então? Investir em saúde pública e segurança pública ou incentivar a maior parte da população a manter o traseiro no banco do motorista de um carro? Além do mais, avenidas largas e rápidas em trechos urbanos tornam as cidades muito hostis, perigosas, feias entre outros diversos problemas.
Estatísticas enganam: 1,8 pessoas por carro em Curitiba. Esta estatística poderia ser ótima. Imaginem cada carro circulando com quase dois pessoas dentro. Pronto! Não precisaria sequer de transporte público! Mas infelizmente isto ocorre da pior forma. A maioria esmagadora dos carros circula sozinha e ainda sobra o restante da população pra andar com as outras formas de transporte.
Não é possível todos andarem de carro. Multiplique a área projetada de cada carro, multiplique pela número de pessoas que circulam nas áreas quentes de uma cidade e divida pela área das ruas do centro da cidade. É, não cabe, nem se forem Gurgel BR800, quem dera as SUV e os sedans cada vez maiores.
Se não houvesse carros e sim ônibus para todos chegaria mais rápido do que se chega hoje de carro nos horários cheios. A frota de ônibus seria grande, o suficiente para todos andarem sentados, mas andaria. Além do mais, motoristas de ônibus são muito bem preparados, não bloqueiam cruzamentos, se ajudam, e fazem auto-escola a cada seis meses pra manter a qualidade.
Existem muitos outros fatos relacionados a mobilidade urbana. Mas em ano de eleição, vale todo tipo de mentira. “Vamos melhorar o trânsito”, “trincheiras, viadutos, etc.”, “avenidas mais largas”.
Não adianta incentivar o transporte desta forma. Não se resolve desta forma. Mas, numa sociedade como a de Curitiba que tem uma das frotas mais novas de automóveis, entretanto, carro na rua é sinônimo de voto na urna. O Próprio metrô é uma idéia que têm apoio de todos, pois muitos pensam que ele vai tirar ônibus das ruas e assim sobrar mais espaços pra andar de carro.
Então, eu acho que ao invés de dia internacional sem carro, devia ter um dia onde todos andassem de carro.
Daí o trânsito ia ficar tão travado e ruim que ia ficar claro pra todo mundo com mais de dois neurônios que quem atrapalha o trânsito não são as bicicletas, não são os motoboys, não são os ônibus, não são os taxis, sinaleiros, pedestes, entre outros elementos que geralmente levam a culpa pela lentidão das locomoções.
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