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Conduites?
Esta postagem será uma análise para dois assuntos pendentes. Ambos relacionados com conduítes de marcha.
O Conduíte nada mais é que o elemento flexível que trabalha sob compressão servindo de suporte para que o cabo de aço propriamente dito trabalhe sob tração. O conduíte geralmente é um feixe de aço enrolado e revestido por um plástico (na maioria das vezes preta). Alguns possuem um revestimento interno em teflon para deixar o sistema mais macio e preciso reduzindo o atrito do cabo com o conduíte. Existem alguns caros e raros conduítes com tubos que se encaixam. Desconheço seu funcionamento com detalhes, mas a vantagem parece ser em não precisar de cortes uma vez que basta adicionar ou remover “elos”. De qualquer forma se já eram raros, atualmente não tenho visto nas bicicletas de alto nível lançadas recentemente. Provavelmente o sistema de conduítes tradicional continue sendo mais vantajoso.
Recentemente substitui o sistema de câmbio da minha bicicleta por um novo. Mandei montar parte dele em loja e as demais partes instalei em casa. A parte feita na bicicletaria incluía conduítes novos. Mesmo após tudo montado corretamente, a precisão nas trocas de marcha não estava satisfatória. E não havia forma de regular melhor. Ficava imprecisa tanto para subir quanto para descer marchas. Eu já estava me conformando com a minha incompetência em regulagens quando me lembrei de um fato. Câmbios com sistema Index (marchas acionadas por botões) precisam de um tipo de conduíte especial. Mais fino, e mais duro, chamados de “incompressíveis”, ou seja, mais precisos, específicos para a troca de marcha. Fui inspecionar isto na minha bicicleta e eis que vejo um conduíte de freio (mais grosso e flexível) sendo utilizado no sistema de marchas. Após ficar pensando o tempo que eu havia perdido tentando regular algo que nestas condições são impossíveis, gastei uns dois reais (quantia ridícula quando comparada ao preço dos atuais sistemas de marchas) e troquei o cabo e o conduíte de marcha do cambio traseiro e o regulei em 5 minutos sem maiores problemas.
Cortes nos Conduítes
O segundo tema de hoje trata sobre um antigo artigo que eu li a respeito do acabamento dos cortes nos conduites. Em geral tais peças são vendidas por metro, e mesmo quando não são dificilmente estão na medida correta para a sua bicicleta. Desta forma é necessário cortar os excessos. E é sempre aquele problema. Cortar com alicate? Com tesoura para aço? Não tem jeito, fica sempre ruim com um pedaço metálico do conduite disforme na ponta atrapalhando a precisão das marchas. O artigo, perdido no tempo como a maioria das coisas que achamos na internet, falava a respeito de esmerilhar a ponta do conduite, ou cortá-lo com disco de corte (esmerilhadeira de mão).
Aproveitando que tinha esta ferramenta disponível, medi o quanto eu deveria remover do conduíte, peguei óculos de segurança (nunca deixe de utilizar EPI, segurança é vital) e cortei, tanto o cabo como o conduíte com muita facilidade. O acabamento é realmente perfeito. Plano, rígido, sem rebarbas. Coloquei o terminal novamente (embora a referência afirmar que se utilizar terminais é opcional neste caso) os instalei na bicicleta.
Resumindo, estes dois detalhes, de custo extremamente baixo, fizeram um sistema caríssimo (para os padrões nacionais) mudar de insatisfatórios para praticamente um relógio suíço já no primeiro teste (tende a melhorar com o assentamento dos cabos e conduítes sob carga).
Pequenos detalhes, muitas vezes negligenciados por bicicletarias e desconhecidos por nós podem transformar um prazeroso meio de transporte numa fonte de barulho, trancos e dor e cabeça (para os perfeccionistas em regulagens como eu). Por outro lado temos na bicicleta um sistema simples e barato que pode ser montado e desmontado, inspecionado e limpo com muita facilidade, resolvendo a maioria dos problemas.
Transmissões Críticas
Embora muitas pessoas costumem criticar o sistema de marchas de uma bicicleta pela sua baixa durabilidade, imprecisão e fragilidade (e com razão para tal crítica), podemos perceber claramente as vantagens deste sistema de transmissão, que embora não justifiquem os defeitos, devem ser lembrados.
A transmissão por corrente de rolos e descarrilhador (câmbio dianteiro e traseiro) tem como sua maior característica à leveza.
“Leve? Uma transmissão na ordem de quilogramas para transmitir menos de 1cv de potência? A redução da minha furadeira de um CV de potência pesa algumas gramas!”
Este é um ponto que deve ser analisado com cuidado. De fato, para a potência transmitida, ela fica longe de ser considerada leve, porém o fator agravante é o torque. O torque no eixo de uma pedivela é absurdamente alto. Para simplificar as contas, imagine uma pessoa de 80kg pedalando de pé em uma bicicleta. Quando o braço da pedivela (20cm de comprimento) encontra-se paralelo ao chão, produz-se um torque de (80kgx0,2m) 16 kgfm, isso sem considerar outros fatores como uso de sapatilhas, acelerações entre outros.
Para efeito de comparação, um carro 1.0 tem menos de 10 kgfm de torque e a bicicleta trabalha com torques 50% maiores e o dimensionamento das peças é feito pelo torque que elas sofrem. E a caixa de marchas de um carro pesa na ordem de centenas de quilogramas.
Ou seja, construir uma caixa com engrenagens para bicicleta ainda possui suas limitações, embora o uso de engrenagens planetárias ajude.
Além da leveza, podemos citar o número de marchas. Na pratica não tem solução. Como a musculatura humana tem eficiência muito especifica, precisam-se muitas marchas para se poder pedalar na mesma rotação em diferentes velocidades. 10, 12, 16, 18, 20, 24 até 30 marchas podem ser utilizadas hoje em dia na bicicleta. Nenhum outro veículo possui tantas marchas (embora caminhões rodoviários possam ter até 16 marchas) e as troca com tal velocidade.
Com isso pode-se perceber que o sistema de propulsão de bicicletas, desde que este esteja funcionando, tem características excepcionais, mas que infelizmente ainda tem muito que evoluir para manter estas características sob chuva, sujeiras e por mais tempo.
Olhos puxados não são todos iguais
Disponíveis no mercado de peças para bicicletas, poucas marcas oferecem a linha completa, envolvendo cubos, cassetes, trocadores, pedivelas entres outros componentes necessários para se montar um bicicleta.
Uma destas marcas, de origem japonesa ficou famosa (principalmente com o surgimento de bicicletas todo o terreno), sendo referência em qualidade e confiabilidade.
Mas de um tempo pra cá, usuários destas marcas notaram que esta não é mais a realidade desta marca. Posso dar como exemplo a minha pedivela de dez anos atrás que está em perfeitas condições de uso, apesar de uma enorme carga de quilometragem e uma pedivela do mesmo modelo, que teve suas coroas imprestáveis após menos de um ano de uso.
Este fato foi confirmado coincidentemente por dois donos de bicicletaria, praticamente no mesmo dia, sendo uma delas uma mais simples “de bairro” e outra voltada a competições. Um deles se referiu a todas as peças como um todo.
“Antes podia se comprar peças de olhos fechados, que duram muito mas desde que deixaram de ter JAPAN escrito atrás e passaram a ter TAIWAN, ficaram muitos ruins, eu mesmo comprei um lote de catracas pra revender que vou ter que jogar fora de tão ruins que estão”.
O outro mecânico foi mais especifico, se referindo apenas a correntes.
“Da próxima vez experimente a mesma corrente, porém a japonesa e não a chinesa, é mais cara, porém é muito superior em qualidade e durabilidade.”
Como podemos ver a busca por redução de custos trouxe prejuízos significativos no controle de qualidade de algumas marcas, entretanto vemos cada vez mais nas prateleiras de bicicletarias, marcas genuinamente chinesas (antes chamadas de genéricas, mas que agora possuem uma única marca). E, por incrível que pareça, com qualidade respeitável. Apesar da descrença de quem as compra, elas acabam tendo desempenho significativo, que muitas vezes marcas tradicionais não estão mais tendo.
Acredito que isto se dê pela busca desesperada pela redução de peso. Marcas tradicionais desenvolvem estes componentes nas matrizes utilizando materiais refinados e sofisticados, porém ao fabricá-los em larga escala com baixo custo, não se consegue obter materiais de mesma qualidade, e o projeto não funciona. Marcas mais simples já fazem peças mais superdimensionadas sabendo da má qualidade que serão manufaturadas. Claro que é só uma explicação simples e sem profundidade para um problema sério e que mesmo assim não justificaria ou nos faria tolerar peças ruins.
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