Archive for outubro, 2008
Em shopping até bicicletário é vitrine
Domingo chuvoso, precisando sacar dinheiro. Olho na garagem, o carro e a bicicleta. Aperto o manete de freio e facilmente a bicicleta levou a disputa. Jaqueta impermeável, cartão na pochete, cadeado e chave. É tudo que eu preciso, afinal documento e carteira de motorista não me seriam muito úteis.
Chego no local mais próximo para tal operação, o Shopping Jardim das Américas , nome pomposo que também é dado ao bairro e onde este se situa, em frente ao Centro Politécnico da UFPR. De datas anteriores eu já havia reparado a presença de um bicicletário dentro do estacionamento.
Perfeito. Entro no estacionamento pela entrada dos carros e me deparo com o bicicletário. Algumas bicicletas mais simples, outras não, mas ao todos deviam ser menos de 10. Número triste para um centro comercial de bairro, principalmente quando comparado ao número absurdo de carros. Melhor para mim. Escolho a dedo o melhor local, fixo a bicicleta, coloco cadeado e corrente. Entro no shopping, caixa eletrônico , saco o dinheiro e vou até a bicicleta , tiro corrente, subo nela e vou em direção a saída pra retornar pra casa. Momentos procedentes: (1) Rapaz de terno e radio ,(2) Eu
– (1) Ei , por gentileza, pode sair do estacionamento.
– (2) Sim eu estou saindo, tirei a bicicleta do bicicletário e estou em direção àquela saída.
– (1) Mas não pode circular de bicicleta aqui dentro.
– (2) Sim eu estou saindo, tirei a bicicleta do bicicletário e estou em direção àquela saída.
– (1) É um procedimento de segurança, não pode circular e bicicleta aqui dentro.
– (2) E como eu faço para sair daqui então?
(30 segundos de hesitação tipico de pré-resposta sem sentido)
– (1) Pega a bicicleta e vai empurrando até aquela saída do outro lado do shopping, como se você estive a pé.
– (2) Que falta de respeito com os ciclistas!
Tudo bem, sai de lá, empurrando a bicicleta e pensando, é uma idéia interessante. É tão boa que acho que todo mundo devia sair de lá empurrando seu veículo. Seja ele um patins, uma bicicleta, uma moto, um carro ou uma dessas diversas picapes que peruas gostam de dirigir no shopping. Não apenas as bicicletas.
(5 minutos depois, ao telefone da minha casa:)
– Administração do shopping Jardim das Américas , boa tarde?
– Boa tarde. Eu moro perto do shopping e gostaria de saber se teria como eu ir de bicicleta até o shopping, tem onde deixá-la?
– Claro, tem bicicletário, só precisa trazer corrente.
– E daí eu entro pela entrada e na hora de sair eu saio pela saída como se estivesse de carro?
– Ahn?
– E daí eu entro pela entrada e na hora de sair eu saio pela saída como se estivesse de carro?
– Sim num tom de “é obvio!”)
– Então você pode me fazer um favor?
– Sim.
– Avisa os seguranças, pois eu acabei de sair dai depois de ter levado advertência de um deles por tentar sair com a bicicleta.
– Qual que era?
– Um moreno gordinho.
– Ah tá. (30 segundos de hesitação tipico de pré-resposta sem sentido) É que você só pode sair por onde você entrou. No caso você deveria ter utilizado o acesso do G2.
– Mas ali é só entrada de carros , mal passa um carro, você acha mais seguro sair pela contramão dos veículos numa rampa estreita?
– Ah, você esta de bicicleta consegue dar um jeito.
– Muito obrigado, tenha uma boa tarde.
Achei melhor terminar a conversa por ali mesmo. A pergunta é: Por que tanta irritação com algo tão inofensivo quanto uma bicicleta? Não podem simplesmente tratar como se fosse uma moto que não faz barulho nem solta fumaça? Talvés o errado seja eu mesmo, e não os funcionarios incompetentes e uma administração infeliz. Talvés o errado seja eu mesmo, pois naquele jardim (das américas) só da pra entrar se fizer barulho e fumaça.
Marchas, velocidade, potência e outras confusões
Não não não!
Chega a doer os ouvidos frases como “com mais marchas anda mais rápido”, “pedivela maior corre mais”, “cassete pequeno faz correr no plano”.
Em um trajeto plano, a grosso modo, existem apenas dois fatores que definem a velocidade do conjunto bicicleta e ciclista: Potência e aerodinâmica.
Como aerodinâmica é um assunto pra outra conversa, vamos nos focar apenas no conceito de potência. Potência é o trabalho realizado por unidade de tempo, e é numericamente igual a:
Força x Velocidade. Para efeito de simplificações, a única força envolvida para um trajeto plano é a resistência aerodinâmica. Portanto pedalar mais rápido exige mais potência.
Energia/tempo. Energia pode ser kCAL, kWh, Joules. Etc. Para nós ciclistas esta energia vem dos alimentos. Se você se alimenta de um hambúrguer e consome a energia contida nele em 5 horas, estará envolvendo mais potência do que se consumir está energia em 10 horas.
Potência é usualmente (usualmente significa em unidades do SI e não em unidades burras inglesas que insistem em utilizar pés, dedos, onças e outros conceitos primitivos para medir coisas) medida em Watts (W) e seus prefixos, Quilo, mili, Mega, etc. A ordem de potência de uma pessoa pedalando é de 130W, ou 0,2 cavalos aproximadamente. Pode ser maior para atletas ou menor para não ciclistas.
Isto é tudo que define a velocidade no plano com coeficiente de arrasto do ar constante simplificado. Não interessa se têm 1, 2, 30 marchas.
Entretanto a potência pode ser utilizada de forma mais eficiente.
A eficiência ideal pra se pedalar se da quando giramos a pedivela entre 70 e 110 RPM (rotações por minuto).
Portando não adianta utilizar uma pedivela enorme achando que isso vai tornar a bicicleta mais rápida. Fazer isto só fará que se pedale num RPM menor, e com eficiência menor, ou seja, cansando mais e andando mais devagar.
Ou seja, não existe pedivela rápida, lenta, cassete mágico, e outros mitos. Existe relação correta de transmissão para cada velocidade. E se tratando de bicicleta, só com pernas mais rápidas para andar mais rápido. Quem sabe ai não está a graça deste esporte e meio de transporte? O equipamento faz pouca diferença desde que esteja funcionando, pouco ajuda desde que não atrapalhe!
Carro na rua, voto na urna
Sinceramente, não sei por que insistem em promover “dia internacional sem carro” e outros eventos assim. A maioria dos motoristas de carro, ao se dar conta de um evento assim, ou finge que não viu, ou pensa
“que bom, vai ter menos carros, vai ficar mais rápido para eu dirigir o MEU carro sozinho”.
Verdade seja dita, em horários mais movimentados, quem faz trajeto bairro-centro e o oposto, sozinho, de carro já está no ápice da preguiça de mobilidade, e não iria substituir sua sedentariedade para poder ajudar a locomoção de uma população como um todo. Óbvio que muitos têm a real necessidade, seja por segurança (a noite, Curitiba e demais capitais estão perigosas) ou por não haver linhas de ônibus inteligentes (muitos trajetos bairro-bairro passam pelo centro, despendendo um tempo enorme) ou por transportar objetos pesados e volumosos (não! bolsas femininas cheias de tralhas não entram nessa categoria).
Vamos aos fatos que todos sabem mas muitos têm medo de admitir.
Trânsito urbano, tende a piorar: Tal problema pode ser amenizado por investimentos altíssimos, mas não resolvidos. Mas e então? Investir em saúde pública e segurança pública ou incentivar a maior parte da população a manter o traseiro no banco do motorista de um carro? Além do mais, avenidas largas e rápidas em trechos urbanos tornam as cidades muito hostis, perigosas, feias entre outros diversos problemas.
Estatísticas enganam: 1,8 pessoas por carro em Curitiba. Esta estatística poderia ser ótima. Imaginem cada carro circulando com quase dois pessoas dentro. Pronto! Não precisaria sequer de transporte público! Mas infelizmente isto ocorre da pior forma. A maioria esmagadora dos carros circula sozinha e ainda sobra o restante da população pra andar com as outras formas de transporte.
Não é possível todos andarem de carro. Multiplique a área projetada de cada carro, multiplique pela número de pessoas que circulam nas áreas quentes de uma cidade e divida pela área das ruas do centro da cidade. É, não cabe, nem se forem Gurgel BR800, quem dera as SUV e os sedans cada vez maiores.
Se não houvesse carros e sim ônibus para todos chegaria mais rápido do que se chega hoje de carro nos horários cheios. A frota de ônibus seria grande, o suficiente para todos andarem sentados, mas andaria. Além do mais, motoristas de ônibus são muito bem preparados, não bloqueiam cruzamentos, se ajudam, e fazem auto-escola a cada seis meses pra manter a qualidade.
Existem muitos outros fatos relacionados a mobilidade urbana. Mas em ano de eleição, vale todo tipo de mentira. “Vamos melhorar o trânsito”, “trincheiras, viadutos, etc.”, “avenidas mais largas”.
Não adianta incentivar o transporte desta forma. Não se resolve desta forma. Mas, numa sociedade como a de Curitiba que tem uma das frotas mais novas de automóveis, entretanto, carro na rua é sinônimo de voto na urna. O Próprio metrô é uma idéia que têm apoio de todos, pois muitos pensam que ele vai tirar ônibus das ruas e assim sobrar mais espaços pra andar de carro.
Então, eu acho que ao invés de dia internacional sem carro, devia ter um dia onde todos andassem de carro.
Daí o trânsito ia ficar tão travado e ruim que ia ficar claro pra todo mundo com mais de dois neurônios que quem atrapalha o trânsito não são as bicicletas, não são os motoboys, não são os ônibus, não são os taxis, sinaleiros, pedestes, entre outros elementos que geralmente levam a culpa pela lentidão das locomoções.
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