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Cubos mágicos II – Sturmey Archer X-RK8
Não só de Nuvinci vive um homem. Na segunda reportagem da série Cubos Mágicos, a vetarana Sturmey Archer com o não tão veterano X-RK8.
IIª Guerra mundial. Tanque de guerra Tiger I. Esta máquina, fruto de grande primor de projeto e fabricação tornava-se uma obra de arte técnica. Em pouco tempo todo esse refinamento da engenharia alemã refletia-se em uma enorme vantagem bélica sobre os inimigos e consequentemente tornou-se a máquina mais temida da metade da guerra.
No coração deste tanque, habitava a engenhosa transmissão de 8 velocidades. Constituída de 3 conjuntos de engrenagens planetárias permitia robustez com dimensões reduzidas.
Não por acaso esta foi a solução escolhida pelos engenheiros ingleses – e agora chineses – ao conceituar o Sturmey Archer X-RK8. Um projeto muito enxuto, limpo e robusto. Assim como a caixa de câmbio Maybach usada no tanque, este cubo utiliza a combinação de 3 sets de reduções planetárias.
Construção
Cada um destes sets permitia, de acordo com o acionamento de travas, 2 possíveis velocidades. Uma direta (sem acionar a redução) e outra passando pelas engrenagens. Desta forma, com 3 sets em série temos 2³ combinações diferentes. Ou seja, 8 velocidades, seguindo uma lógica de um sistema binário.
Neste cubo todas as reduções são menores que 1, ou seja, são todas multiplicações. Parte-se da relação 1:1 e tem-se uma multiplicação superior a 3:1 na oitava marcha. Este arranjo possibilita a utilização de pedivelas compactas sem comprometer a velocidade final. Entretanto limita uma relação para subidas muito íngremes já que a maior engrenagem comercial para este cubo é 25 dentes e dificilmente se acha uma pedivela com menos de 22 dentes, logo é inviável uma relação mais curta que 22/25.
O acionamento interno ocorre com um came rotativo que ativa, numa determinada sequência, qual set planetário deve ser fixado. Sendo assim, não se pode trocar de marcha sob carga – parado pode.
As engrenagens são do tipo cilíndricas de dentes retos e os acoplamentos de contra recuo (catracas) são de contato positivo, ou seja, com molas e dentes. A soma de acoplamentos com dentes e o uso de engrenagens de dentes retos faz com que este cubo não seja de maneira alguma silencioso. O som é inclusive diferente para cada marcha.
Regulagem e Usinagem
Sua regulagem é muito delicada e sensível. Difícil o suficiente para eu achar que o cubo havia vindo avariado. Nem mesmo a indicação visual estava auxiliando na busca pela regulagem perfeita. Seu arranjo mecânico complexo faz com que, em caso de regulagem incorreta, engate-se marchas aleatórias (por exemplo passar da 6º para a 2º marcha) gerando grandes sustos e confusões.
A decisão de utilizar apenas multiplicações dentro do cubo gera um péssimo efeito colateral: O torque no eixo. Ao contrario dos demais cubos onde a utilização de “torque arm” ou “non-turn washer” é quase facultativa, neste ela é mandatória. Caso contrário o cubo irá girar sobre o eixo. No meu caso optei por projetar e mandar usinar uma peça própria para resolver este problema, embora haja solução comercial no exterior.
Trocas
O trocador gripshift possui um visor numérico, e as trocas são feitas praticamente sem esforço. Pode-se inclusive trocar de marcha apenas utilizando o dedão.
O desengate do cabo de marcha do cubo também é feita com facilidade, sem a utilização de nenhuma ferramente.
Eficiência
A eficiência deve ser a mesma verificada em outros cubos de marchas internas (aproximadamente 85%). Sendo variável de acordo com o número de sets planetários utilizados em cada marcha. Após alguma centena de quilômetros , verifiquei uma melhoria no rendimento e diminuição no ruido, como se tivesse passado por um processo de amaciamento.
Um toque Inglês
Por ser inglês, era esperado alguma característica bizarra. Não demorou muito para eu descobri-la. A porca que fixa o cubo no quadro é na rara, estranhíssima e não comercial medida 13/32”. Ou seja, só encomendando da Inglaterra.
Resolvidos todos os problemas e dificuldades técnicas de instalação, o cubo apresenta uma performance invejável. Suas trocas são extremamente precisar e rápidas – desde que sem carga no pedal. Superior a todos os sistemas de marcha que já testei no quesito velocidade. As relações de marcha são muito bem distribuídas e lineares, sendo constantes em quase todas as mudanças. A exceção fica nos extremos, onde os ingleses investiram em uma relação mais afastada e ampla.
Oferta
Embora a marca Sturmey Archer tenha mais de 60 anos, não é nenhum pouco fácil de se achar conjuntos a venda. Porém seu preço é inferior aos seus concorrentes.
Recomendo o uso para ciclistas com uma experiência média em manutenção e principalmente para pessoas que gostam de máquinas e transmissões, pois trata-se se de um equipamento muito bem construído.
Se quer entender melhor, veja esse vídeo bem explicativo.